terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Por o "preto no branco" e os "pontos nos is"

Estou numa fase de poesia... Logo eu que prefiro de longe a prosa à poesia, por ser muito mais clara e objectiva. A poesia deixa-nos sempre no limbo de um milhão de interpretações possíveis, onde no final o conceito absorvido virá de um somatório ( em que o final será sempre superior ao somatório das diferentes partes) de parcelas constituídas pelo texto em si, pelas vivências do autor, e pelas vivências do leitor.
Gosto particularmente deste poema de Pablo Neruda:

"Morre lentamente quem não viaja,
quem não lê, quem não ouve música,
quem destrói o seu amor próprio,
quem não se deixa ajudar.

Morre lentamente quem se transforma escravo do hábito,
repetindo todos os dias o mesmo trajecto,
quem não muda as marcas no supermercado,
não arrisca vestir uma cor nova,
não conversa com quem não conhece.

Morre lentamente quem evita uma paixão,
quem prefere o "preto no branco" e os "pontos nos is"
a um turbilhão de emoções indomáveis,
justamente as que resgatam brilho nos olhos,
sorrisos e soluços, coração aos tropeços, sentimentos.

Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz no trabalho,
quem não arrisca o certo pelo incerto atrás de um sonho,
quem não se permite, uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos.

Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da má sorte ou da
chuva incessante, desistindo de um projecto antes de iniciá-lo,
não perguntando sobre um assunto que desconhece
e não respondendo quando lhe indagam o que sabe.

Evitemos a morte em doses suaves, recordando sempre que estar vivo
exige um esforço muito maior do que o simples acto de respirar.
Estejamos vivos, então!"

Adoro este poema, leio-o e absorvo-o como uma espécie de profecia para uma vida mais intensa e feliz! Acho que todos os dias tento viver assim, mais intensamente, procurando sempre conhecer mais, aprender mais, surpreender-me mais... Mas há uma frase que não concordo, não concordo nada com o poeta! "Morre lentamente quem prefere o "preto no branco" e os "pontos nos is"... Talvez esta minha enorme discordância advenha do simples facto de ser minha máxima de vida fazer neste aspecto exatamente o oposto! Não sei se estou certa, se estou errada, se viver num mar de paixões e sentimentos incertos, será a forma mais intensa de viver a vida. Mas por outro lado, se formos acima de tudo práticos e pragmáticos, se não nos enganarmos a nós próprios e aos outros, pondo esses "pontos nos is", não sobrará mais tempo mental para todas as outras coisas que podemos fazer na vida e que o autor tão bem descreve no poema? Sinceramente, não sei! Um enigma por resolver!

domingo, 23 de fevereiro de 2014

Pequenas vitórias!


Hoje assisti a uma situação numa simples caminhada à beira-mar, que nunca pensei ver… Pelo menos aqui, neste pacato país à beira mar plantado.
De repetente numas rochas junto à praia, dois rapazes (não consegui perceber a idade, não sei se miúdos, adolescentes, jovens, não sei…), elevavam uma simples bandeira azul, como se marcassem aquele território como deles. E depois de a bandeira hasteada começaram a festejar a sua pequena vitória…
Achei um episódio engraçado, diferente, e até captei o momento…
Mas deixou-me a pensar, que vitória estariam a festejar? Sim, de facto alguma insanidade para se colocarem a caminhar entre rochas num mar de inverno, mas o trajecto era relativamente curto, e a escalada também não foi necessariamente custosa… Por isso, voltei a pensar, que acontecimento de vida estariam a festejar?  Não sei! Não sei a história, mas sei que a partir deste episódio poderiam surgir uma série de contos!
Mas esta imagem levou-me a pensar, naquelas pequenas vitórias que vão acontecendo na nossa vida. Cada dia que passa, é um trajecto, um percurso que vamos desenhando. No decorrer deste percurso vamos encontrando pessoas, vamos encontrando projectos, vamos encontrando desafios. Com alguns vamos perder tempo, energia, gastar forças, e no fim vamo-nos sentir perdidos, e pôr-nos a pensar em porque não escolhemos outra direcção… Com outros vamos ter as nossas pequenas vitórias, que muitas vezes desvalorizamos e nos esquecemos de festejar, e principalmente de partilhar com os outros… Esses outros que muitas vezes caminham invisíveis ao nosso lado, e nos guiam também muitas vezes o caminho.
Que piada teria a vida sem os seus tropeços? Aprendemos com eles a nos levantarmos, a curarmos a dor da queda… O mais importante é não fecharmos os olhos às nossas pequenas vitórias, e principalmente alegramo-nos com elas, e festejarmos com os outros.

Até breve.


sábado, 15 de fevereiro de 2014

A Genialidade de Fernando Pessoa!


Existem e existiram neste mundo pessoas verdadeiramente geniais, que pela obra que nos deixaram nos enriquecem os dias e a alma!
O nosso Fernando Pessoa foi um desses génios! Gosto particularmente da sua poesia assinada como Alberto Caeiro! Este heterónimo de Fernando Pessoa, nascido camponês, representa a meu ver o lado mais intelectual do autor (acho que se escrevesse isto num qualquer exame de português levaria automaticamente um enorme risco a vermelho!)… Mas leiam a obra, e digam se não concordam comigo… Na poesia de Alberto Caeiro está estampado um enorme despego de tudo aquilo que é mundano, de tudo aquilo que é intelectual, de tudo aquilo que é a arte de pensar!  A meu ver, só aqueles que viveram toda a intelectualidade do ser, no seu máximo extremo, é que um dia poderão chegar a este máximo despego!
Adoro devorar toda a obra de Alberto Caeiro, mas deixo-vos o meu poema preferido dele…

"Se eu pudesse trincar a terra toda
E sentir-lhe um paladar,
Seria mais feliz um momento…
Mas eu nem sempre quero ser feliz.
É preciso ser de vez em quando infeliz
Para se poder ser natural…
Nem tudo é dias de sol,
E a chuva, quando falta muito, pede-se.
Por isso tomo a infelicidade com a felicidade
Naturalmente, com quem não estranha
Que haja montanhas e planícies
E que haja rochedos e erva…

O que é preciso é ser-se natural e calmo
Na felicidade ou na infelicidade,
Sentir como quem olha,
Pensar como quem anda,
E quando se vai morrer, lembrar-se de que o dia morre,
E que o poente é belo e é bela a noite que fica…
Assim é e assim seja…"

Até breve...

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Praxes... O balanço entre liberdade e libertinagem....

Tendo como ponto de partida as declarações que uma jornalista fez ontem num debate sobre praxes em horário nobre num canal de televisão, vou hoje falar sobre liberdade e libertinagem. Sim, é verdade, são dois conceitos que embora possam parecer ser semelhantes, são na realidade bastantes diferentes e antagónicos!
Assim, por liberdade compreende-se o direito de proceder conforme nos pareça, contanto que esse direito não vá contra o direito de outrem. E por seu lado por libertinagem compreende-se o uso da liberdade, sem o uso do bom senso, ou seja, poder proceder-se conforme nos pareça, independentemente do direito de outrem!
Nasci na liberdade, e sempre vivi em liberdade, por isso teria grande dificuldade em reflectir viver de uma outra maneira que não em liberdade. Mas isto não me impede de acreditar que para a correta vivência na sociedade tenham que existir regras de convivência, sendo que estas devem  assentar  para além de princípios morais e de formação, na existência de uma hierarquia. Não se assustem por favor, e não confundam a existência de hierarquia com ditadura, pois são também conceitos muito diferentes!
Pode existir hierarquia e haver na mesma liberdade, tudo depende do respeito mútuo entre os diferentes intervenientes, e aqui volto a cair no conceito de educação, formação, comunhão de princípios e valores. Não acredito numa outra organização de sociedade, sem ser esta baseada numa comunhão de valores, que por sua vez permitirá uma formação sólida de uma personalidade individual e colectiva. E tudo isto começa logo no início, ou seja, no ambiente familiar, também este baseado numa hierarquia e numa saudável convivência entre pessoas!
Sou claramente a favor das praxes, das queimas das fitas e todas as tradições académicas! Mas também aqui, devem existir valores e princípios, que permitam a não existência de abusos na pirâmide da hierarquia! E principalmente, quem é praxado, deve trazer de bagagem uma sólida formação e personalidade, que lhe permita separar o trigo do joio!
Não sei se as praxes, e limites das praxes, deveriam ou não passar a estar presentes nos estatutos das faculdades, universidades, mas claramente acredito que este não deva ser um assunto de estado, e discutido e re-discutido em reuniões no Ministério da Educação! E mais uma vez, práticas de crime, resolvem-se em tribunais e não em discussões filosóficas que não levam a lado nenhum!
Sinceramente, os abusos das praxes e outros abusos praticados nesta nossa sociedade, baseiam-se numa prática colectiva de libertinagem, sendo esta praticada em nome de um falso conceito de liberdade! Tudo se resume a uma necessidade urgente de mudança de mentalidades, através de uma formação individual e colectiva baseada em princípios e valores morais! De outra forma, podemos discutir e re-discutir o assunto vezes sem conta, podemos até legislar a matéria, mas o verdadeiro cerne da questão, estará sempre presente e sem qualquer solução!
Tive a sorte de ter uma praxe, que serviu para nos integrar a todos os caloiros no novo ambiente, que era a faculdade! Praxe esta na qual não houve qualquer abuso! Tenho saudades desses tempos, confesso! 
Relativamente ao caso que trouxe à praça pública a discussão da temática, para além de lamentar muito as vidas perdidas, deixo só uma questão para por a todos pensar - que culpa tem a instituição faculdade/universidade em actos praticados fora da instituição, fora do horário da instituição e onde todos intervenientes participaram de livre vontade, e com conhecimento dos pais?

Até breve....